Seguidores

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre a Natureza e as Limitações Humanas

Por Dimas de Fonte
No Mundo Natural o ser humano é obrigado a calar-se e reconhecer sua pequenez e participação ordinária nas tramas de algo que é muito maior que ele. Minha colega professora Elaine Brito, certa vez me disse: “A natureza é, por si só, um discurso livre de qualquer contradição.” É uma frase extremamente inspirada e verdadeira.

É por causa disso que emudecemos invariavelmente diante da natureza. O que é um ser humano sem contradições? É difícil, quase impossível, um ser humano não tê-las. Mas essas mesmas contradições dissolvem-se quando nos vemos (e esse sentimento é maior no seio da Mãe Natureza) não aparte, mas como parte de tudo mais que nos rodeia. Realmente na Natureza o que é, é. Ponto. Sem tergiversar ou esconder.

Acho que ao fim e ao cabo, quando nos vemos diante da Natureza retornamos ao fato inquestionável de que por trás de todo "refinamento" e "finesse", roupas e casa e sapatos não passamos de macacos nus com mania de grandeza. Por isso certa vez eu escrevi:

LATERNA DOS AFOGADOS
Da lógica ou da incerteza da vida
Tiramos as respostas
Que são voláteis como uma brisa
Somem no ar após alguns instantes
Há os que buscam no credo
Outros numa garrafa de bebida
Há também aqueles que consolam-se
Com a idéia de não haver nenhum Deus
“Somos todos formigas num cosmo sem sentido”
De cada lado há alguém tentando explicar
Segurando qual náufrago,
A tábua da salvação;
Porque o importante é acreditar,
mesmo que se acredite,
que não se acredita em nada.
O homem é o que ele pensa.
Acha-se ligado a uma explicação
Como a um cordão umbilical.
Traz a profunda mágoa
De não ver nada além
Do seu próprio nariz
E mesmo assim,
Acha que a sua mediocridade
É a medida de todas as coisas.
(Dimas de Fonte)

A mediocridade dos homens não é medida de nada. Um dos medos mais arraigados que eu tinha quando mais jovem era o medo da mediocridade; não nos outros, mas em mim mesmo (a mediocridade dos outros não me aflige, apenas me faz lamentar).

Fugia disso como se fosse um demônio dos infernos. Depois de muitos anos descobri que como a loucura (só fica louco quem não tem medo de ficar), a mediocridade só atinge quem não tem medo dela. Meu antídoto contra ela foi me colocar em tudo de corpo inteiro, como um dia disse Fernando Pessoa:

“Para ser grande, sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui.
Se todo.
Em cada coisa põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim, em cada lago,
A lua toda brilha porque alta vive”.

Seguindo e vivendo pelas palavras do Poeta, acredito que qualquer um poderia, em qualquer altura de minha vida, me acusar de inaptidão, inépcia ou mesmo burrice, mas nunca de ser medíocre. Creio que a mediocridade surge com a supervalorização de si mesmo. Com a relação entre o que se apregoa e o que se faz. Quem é grande não diz que é. Quem superestima a si próprio sem ter como comprovar é medíocre por não ter a exata medida de sua simultânea Pequenez e Majestade; um estado inerente ao Ser Humano único no Universo que cada um de nós é.

Ser medíocre também pode ser se nivelar e nivelar o mundo por baixo. É não dar o melhor de si. É “empurrar com a barriga”. É como disse Marina Colasanti (aqui parafraseada): “se poupar para não desgastar na aspereza da vida”.

Mediocridade seria também alguém agir sempre de acordo com o senso comum, seguindo os ditames da sociedade passivamente sem colocar os "chifres" (sua Atenção e Intenção) “para fora e acima da manada” como diz a música “Vaca Profana” do Caetano Veloso; pelo menos para questionar o que vê. Já vi gente  comportando-se assim e ainda  fazer isso alardeando a superioridade "incontestável" de estar fazendo o que todo mundo faz (como no mundo da moda e correlatos); renunciando a prerrogativa de originalidade que todos nós temos e preterindo o único motor que é capaz de gerar o Novo: o questionamento constante da realidade em que se vive; uma realidade incontestavelmente plural, multifacetada e em constante mutação que, se não pode ser entendida em sua completude com a razão, pode ser sentida intuitivamente por que somos uma  parte intrínseca dela. Acredito em Ramakrishna quando ele diz:

"O homem e como uma garrafa cheia de água, fortemente arrolhada, lançada no meio do oceano. Tem dentro de si a mesma substância de que é feito o oceano, mas sua mente (a rolha) o impede de tornar-se uno com essa imensidão."

A visão dessa separação entre “dentro” e “fora”, um efeito da nossa vida tridimensional, nos faz vermo-nos como destacados do resto da criação; mas os átomos que nos formam estão em toda parte, apenas arranjados de forma diferente.

Há pessoas que dizem: “Eu sou assim!” Ao afirmar algo como isso, se dificulta enormemente uma possível reformulação na personalidade, uma transformação benéfica. Ninguém É assim, apenas ESTÁ assim agora e pode muito bem não estar mais amanhã. Devemos procurar sermos abertos ao conhecimento/entendimento do que nos move e influencia na vida; das forças que agem a partir de dentro e de fora de nós. Ao fazer isso nos tornamos mais tolerantes, por que as regras do mundo são as mesmas para todos, mas não afetam a cada um igualmente. Nossa reação a elas é que faz toda a diferença.  


No Taoísmo há a crença de que no mundo existem vários Caminhos que coexistem, como Caminho do Céu, O Caminho da Terra e o Caminho do Homem, cada qual com suas leis que devem ser conhecidas e seguidas pelos Homens Sábios e somente depois desse entendimento é que se poderia transcendê-las, como disse o monge Zen  Bashô: 


"Respeite todas as regras. Então, jogue todas fora. Pela primeira vez, você atinge a liberdade".


 Eu particularmente sou capaz de entender e mesmo tolerar os erros dos outros, mas vou caçar até morrer os meus próprios erros; identificar as sementes ruins dentro de mim onde elas estiverem e se puder, dificultar o máximo para que elas não floresçam.

Um comentário:

  1. Todos nós temos uma parcela animal, (os três Chakras "inferiores") uma natureza humana(o Chakras cardíaco) e a natureza divina(os três Chakras "superiores")
    Mas no fim de tudo, de fato, são apenas modos de se tentar compreender as coisas. Um modo, por sinal, que tenta colocar o Todo em compartimentos. Acho valido também. Essas "Coisas"(Tudo mesmo. Teoria Sobre Tudo:TST) podem ser entendidas, ou vistas/sentidas como o Grande Oceano que Jung chamava de "Inconsciente Coletivo", os gregos denominavam de "Ponto, O Mar Primordial" e os astrólogos classificam de Netuno.
    Dentro dessa ótica de Completude dentro da Multitude, não cabem divisões do que vem a ser instinto, intuição, emoção, razão, humano ou divino.
    E, no final, tentamos mesmo é não nos afogarmos no Grande Oceano de Possibilidades.(risos) Uma lanterninha até que é bom para clarear um pouco as coisas(O pensador Diógenes que o diga, kkk)
    MUITO BOM seu artigo, e nós, seus leitores estávamos com saudades de seus ensaios filosóficos e, particularmente falando, este em especial veio a agregar em muitos às indagações minhas dessa minha terça feira.
    Abraços, Irmão Poeta.

    ResponderExcluir