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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lao Tsé e o Tao Te Ching



(Baseado na compilação de José Laércio do Egito)

Pouco se sabe com certeza sobre Lao Tsé. Há uma obra chinesa muito antiga chamada Shi Chi (Apontamentos Históricos) que diz que Lao Tsé, cujo nome real era Erh Dan Li, teria nascido no Sul da China, numa região chamada Ch'u, em torno do ano 604 a.C. Mas também há os que afirmam que o Tao Te Ching é apenas uma compilação de versos de vários pensadores de escolas de pensamento do 3º século a.C., que genericamente usavam o título de Lao Tsé.

Segundo as tradições, Lao Tsé foi contemporâneo de Kung Fu Tsé (Confúcio), de quem foi discípulo. Tornou-se o guardião dos arquivos do Tribunal Imperial, e atraiu muitos seguidores com sua sabedoria, embora sempre haja se recusado a fixar suas ideias por escrito, por temer que as palavras pudessem ser convertidas em dogma formal. Lao Tsé desejava que a sua filosofia permanecesse apenas como um modo natural de vida estabelecido sob uma base de bondade, serenidade e respeito. Assim, ele não estabeleceu nenhum código rígido de comportamento, preferindo ensinar que a conduta de uma pessoa deve ser governada pelo instinto e pela consciência. Ensinava que nenhuma tarefa deveria ser apressada, que tudo deve acontecer no seu devido tempo. Acreditava que a simplicidade era a chave para a verdade e a liberdade, e assim encorajava seus seguidores para observarem mais a natureza do que aos ensinamentos de mestres.

Aos 80 anos, desiludido com as pessoas da sua terra - que estavam pouco dispostas a seguirem o caminho da bondade natural - se dirigiu para o Tibet, na fronteira ocidental de China, quando foi reconhecido por um guarda, que lhe lembrou que possivelmente todos os seus ensinamentos logo cairiam no esquecimento se alguma coisa não ficasse gravada, e só permitiu que ele deixasse a China após escrever seus ensinamentos básicos, para que pelo menos parte de seu conhecimento pudesse ser preservada para a posteridade. Atendendo ao pedido do guarda, de uma só vez Lao Tsé redigiu (reza a lenda que escreveu numa grande pedra) a coletânea dos 81 versos que se tornariam a síntese de sua sabedoria (e do pensamento Monista Chinês), que entrou para a história sob o nome de Tao Te Ching.

Há muitos sentidos para o significado do nome Tao Te Ching. Um deles o define como "As Leis da Virtude e seus caminhos". Suas palavras isoladas significam: Tao (Infinito, a Essência, a Consciência Invisível, o Insondável, o como, de como as coisas acontecem.); Te (que significa força, virtude, mas de uma forma não ligada aos nossos valores ocidentais); Ching (livro, escrito, manuscrito). Literalmente, portanto, significa "O livro de como as coisas funcionam", e na realidade é este o seu objetivo, mostrar como as coisas no universo funcionam segundo o Tao. Também significa "O Livro que Revela Deus" e "O livro que leva à Divindade". (mais sobre o termo)

Coerentemente com a sua maneira, Lao Tsé não o escreveu por princípios doutrinários, e sim aforismos (versos), de forma tal que pudessem ser adaptados por qualquer pessoa ante diversas situações. Algo aplicável a tudo e a todos; um texto de natureza aberta que não possibilitasse uma forma textual capaz de ser desvirtuado intencionalmente, ou simplesmente ser deformado pelas traduções; uma maneira de aplicação prática de se viver em harmonia, dentro do equilíbrio das polaridades da manifestação do Tao e simbolizada pelo Tei Gi (a figura abaixo, no centro):

O Taoísmo baseia-se num dos Princípios Herméticos - o Principio da Polaridade - que diz ser a natureza bipolar, pois tudo nela tem um oposto. Na essência o universo conhecido é composto de componentes opostos; por vezes físicos (claro/escuro), morais (bom/ruim), biológicos (masculino/feminino) etc. Tudo no universo pode ser classificado em duas polaridades: Yang (pronuncia-se "yong") ou Yin.

Uma indagação comumente feita diz respeito à diferença que existe entre o Taoísmo e o Confucionismo. O Taoísmo tem base metafísica e com aplicação prática. Confúcio foi mais um legislador, cujos ensinamentos ser direcionam mais para o aspecto político da vida.

Trechos do Tao Te Ching

Aquele que conhece o outro é sábio.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.
Aquele que vence o outro é forte.
Aquele que vence a si mesmo é poderoso.
Aquele que conhece a alegria é rico.
Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.
Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.
Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
Ele não se faz notar, e por isso é notado.
Ele não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo,
ninguém no mundo pode competir com ele.

***

A bondade superior é como a água.
A água favorece todas as coisas e a nenhuma exclui.
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
por isso se assemelha ao sábio.
No viver é que acha a felicidade da vida;
No pensar se assemelha ao abismo profundo;
Na bondade, se harmoniza com todos.
Nas palavras é sincero.
No governar equilibrado.
No trabalho age com retidão.
Para caminhar, encontra o melhor momento;
Sendo assim, não cria a rivalidade,
E a maldade fica esquecida.

***

Nos velhos tempos o perfeito homem do TAO
era sutil, sagaz e tão profundo que dificilmente pode ser compreendido.
Porque não pode ser compreendido tratei por descrevê-lo:
Ele é cauteloso, como quem atravessa um rio no inverno;
É prudente como quem teme seus vizinhos;
É reservado, como alguém que é hóspede;
É complacente, como o gelo prestes a derreter-se;
É simples como a madeira não trabalhada;
É acolhedor como os vales profundos;
É discreto como a água turva.
Quem é capaz de purificar a escuridão até que se torne claridade?
Quem é capaz de acalmar o confuso até que ele se esclareça?
Quem é capaz de apressar o estagnado até que aos poucos ele progrida?
Quem segue esses princípios não alberga desejos,
e porque não alberga desejos, quando decai pode renovar-se.

***

O bom guerreiro só é guiado pelo desejo de servir e se detém.
Não se atreve a confiar no poder das armas.
Uma vez cumprido seu propósito, não se jacta.
Uma vez cumprido seu propósito, não se glorifica.
Uma vez cumprido seu propósito, não se orgulha.
Vence porque não pode menos, Mas não para engradecer-se.

***

O sábio não tem ego que chame  seu próprio ego;
Faz do ego dos outros o seu ego.
Para os bons comporta-se com bondade;
Para os maus também com bondade:
Assim é alcançada a bondade.
Para o fiel porta-se com fé;
Para o infiel, também com fé:
Assim é alcançada a fé.
O sábio vive no mundo com concórdia,
E governa o mundo com simplicidade.
Seja para onde for que os outros voltem seus olhos e ouvidos,
 o Sábio olha como a mãe olha para os filhos.

(Lao Tsé - Tao Te Ching)

Texto retirado de:

Os trechos foram retirados de diversas traduções do Tao Te Ching de meu acervo pessoal.


Imagem do Google

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