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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Para entender a sexualidade nos anos 2000

Antigamente as coisas eram mais fáceis. Agora tem que ter infográfico para explicar o que uma pessoa é...

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Retirado de: http://asbiritas.com.br/wp-content/uploads/2013/02/sexualidade-1-1024x727.png

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Que Tipo de Nerd Você é?




Por Vih
Nerd
é aquela pessoa inteligente, que não tem vida social, mas que quer ganhar o mundo. Ele vai usar sua inteligência pra ganhar rios de dinheiro e conquistar a bonitinha do colégio com ele. É atrapalhado para exercícios físicos e aficionado por conhecimento e tecnologia.

Dweeb
é o inteligente antisocial que não tem ambição alguma e, consequentemente, não vai chegar a lugar algum na vida. E eu me pergunto: por que raios que o cara é inteligente então? Enfim…

Geek
é inteligente e obsessivo. É o tipo do cara que quer dominar o mundo. É o nerd descolado, que se preocupa um pouquinho mais com sua vida social, sai com os amigos e tem vida amorosa – ou quase-. O geek é excêntrico e obcecado por tecnologia, eletrônica, games e ficção científica.

Dork
é o antisocial obsessivo. Se veste mal, não se sente bem socializando e é inepto de humor. Quando conversa, acaba usando termos técnicos e fala formalmente. Totalmente incapaz de estabelecer uma conversa com uma mulher, e ainda mais de praticar esportes.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Dez Novas Verdades Sobre a Família Imperial


SÃO PAULO - Os exames realizados nas ossadas da família imperial brasileira revelam fatos desconhecidos - e agora comprovados cientificamente - sobre Dom Pedro I e suas duas mulheres, as imperatrizes Maria Leopoldina e Amélia.

Confira abaixo dez verdades reveladas pela arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel e por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP sobre os ilustres personagens históricos.

1. Dom Pedro I foi realmente enterrado - e não cremado, como afirma texto exposto no interior do Monumento à Independência, no Ipiranga, que abriga a cripta com os restos mortais do imperador e das duas imperatrizes. O estudo arqueológico na cripta afasta de vez a suspeita de que não haveria corpos ali.

2. A segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, foi mumificada. Seu corpo está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios.

3. Dona Leopoldina não teve o fêmur quebrado. Acreditava-se que ela teria caído - ou sido derrubada por Dom Pedro - de uma escada e sofrido uma grave fratura, que teria culminado em sua morte.

4. Dom Pedro I sofreu fraturas em quatro costelas. A causa seriam duas quedas de cavalo, em 1823 e 1829 - ele era um apaixonado por velocidade.

5. Dona Leopoldina foi enterrada com a mesma roupa com que foi coroada imperatriz do Brasil, em 1822. Como único ornamento, usava brincos de ouro com gemas que - presumia-se - eram pedras preciosas. Análise mostrou, no entanto, que são de resina - ou seja, eram bijuteria.

6. Dom Pedro I foi enterrado como Dom Pedro IV de Portugal, com roupas de general. Todas as insígnias encontradas com sua ossada são portuguesas, sem referências em suas vestes ao passado imperial brasileiro.

7. Quando morreu, aos 66 anos, Dona Amélia tinha escoliose severa - desvio na coluna que a fazia andar torta - e osteoporose.

8. Dom Pedro I não era tão alto como se supunha. Ele media entre 1,66 m e 1,73 m - alto para um português da época, mas de mediano para baixo para um homem brasileiro atual.

9. Dom Pedro I foi enterrado com solo da região de Porto, em Portugal. Possivelmente, uma homenagem da cidade ao homem que liderou o "Cerco do Porto" (1832-1833), famoso episódio da guerra pelo trono português, entre liberais e absolutistas.

10. Dona Amélia foi enterrada totalmente de preto. Ela guardou luto por 42 anos, após a morte de Dom Pedro I.

Retirado de:

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sobre Conselhos

Por Frater Aleph
Em nosso caminho sempre encontraremos problemas, sem oposição não há crescimento. Há quem diga que a vida nada mais é do que uma sucessão de problemas a serem resolvidos, outras correntes colocam que os problemas devem ser administrados e se resolverão por simples mudança de consciência. Não importa, esse é um texto sobre conselhos, não sobre problemas.

A medida em que vamos aprendendo sobre nós mesmos e melhorando, adquirimos experiência e com ela a sabedoria. Nessa caminhada compartilhamos nossos dilemas com outros irmãos que também se encontram no mesmo barco e nesses casos é comum termos uma enorme capacidade de resolver os problemas alheios, ou de dar bons conselhos para os outros enquanto os nossos problemas permanecem insolúveis.

O que nos falta é o distanciamento necessário para oferecer um bom conselho a nós mesmos, ao aconselhar os outros estamos livres das desculpas e justificativas que prendem cada um de nós e dessa forma podemos explorar ao máximo nossa própria sabedoria.


Somos muito sábios, não duvide disso, é que para nossos próprios problemas e questionamentos, gastamos muito pouco tempo, e o pouco que gastamos é remoendo nossos próprios erros, nos culpando e cobrando. Soterrados por nossas inseguranças e medos somos incapazes de nos dar e seguir nossos próprios conselhos.

Assim não resolvemos nossos problemas, seja por não nos considerarmos bons o suficientes, pela falta de costume de uma reflexão profunda ou um estado de consciência que não nos permite aprofundar nossas próprias questões.

Quando se trata dos problemas alheios podemos nos permitir uma reflexão, a sabedoria é fruto da experiência. E experiência é fruto de escolhas ruins. Escolhas ruins nos fazem fazer escolhas melhores.

Em geral sempre queremos o melhor para aqueles que amamos, por isso podemos dar conselhos tão bons. E para nós mesmos queremos o mais urgente, o que vai doer menos, o caminho mais fácil.

Tomemos nesses casos o paradigma hermético e compreenderemos que toda manifestação em nosso universo é produto do nosso aparelho mental, tudo o que existe, existe em sua mente, tudo é símbolo, tudo é você se manifestando em outras formas, projeções e leituras de nossos próprios arquétipos internos. Portanto, todos os conselhos que damos são ótimos para nós !

Ofereça sabedoria ao próximo, e tome essa sabedoria para você. Ofereça sabedoria a si mesmo como se oferece a um amigo, não se cobre ou se puna tanto, seja seu melhor amigo, em geral eles são os que dão os melhores conselhos.

Chay !

Retirado de:
 http://www.deldebbio.com.br/2013/02/22/sobre-os-conselhos/#more-13810

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

Por motivos que ninguém explica, diversos textos de outros autores circulam pela internet como sendo de Luis Fernando Verissimo. Isso ocorre com outros autores também, mas o estilo mais casual de Verissimo parece torná-lo um alvo fácil. O texto abaixo é muito bom. Mas também não pertence ao autor, mesmo assim são dicas de vida que ninguém deveria esquecer.

 ***

 1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.


E

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sociedade Cracuda

Um texto lúcido e preciso do amigo Eugenio Nascimento. As autoridades batem cabeça e os intelectuais recriminam quando apenas se aventa a hipótese de retirada forçada dos viciados semi-mortos da rua. A lógica me parece a mesma dos imóveis históricos tombados à revelia dos donos. Sem qualquer auxílio para a manutenção e sem poder agir sem uma enorme burocracia, o proprietário deixa tudo vir a baixo e depois vende o terreno. É assim com os chamados "cracudos". Enquanto os "terrores da ditadura" assombram os pensadores que transformam qualquer ação do Estado em "repressão" (mesmo os indivíduos não tendo poder de resistir por si sós aos efeitos deletérios da droga) eles morrem à margem da rodovia. Só que diferentemente de uma casa que desmorona, isso não acaba com a mazela por que eles se multiplicam. 

E só para não dizer que eu não falei de flores: Foi essa mesma lógica de ojeriza a tudo que é considerado "repressão" pelos filhos pensantes da ditadura é que transformou as escolas públicas num lugar em que os alunos podem tudo e o professor não pode nada, espremido e sufocado por burocracia, estatísticas e aprovação automática. Sem Educação decente, nem uma ação estruturada do poder público o condomínio dos "cracudos" só tende a aumentar.

***

Antonio Eugenio do Nascimento

Passo todos os dias pela Avenida Brasil e já estou ficando acostumado com aquela gente, assustadoramente drogada, agora confinada em um pequeno terreno triangular, de ponta tão fina em um dos vértices, que seus ocupantes, quando sentados, acabam ficando com os pés no meio da rua por onde passam os carros em alta velocidade. São, mais ou menos, duzentas pessoas à espera da sorte ou da chegada célere das olimpíadas do Rio, único evento capaz de salvar a todos da morte que se avizinha.



Pode parecer exagero, mas não consigo saber o que esperam Cabral, Paes e Dilma para agir em busca de uma solução antes da derrocada final. As pessoas estão morrendo, algumas atropeladas, algumas desaparecem, outras vão para os hospitais e não voltam. Estão todos na condição de indigentes à espera da cova rasa e o governo, bestializado, diz não saber o que fazer com aquele grupo de consumidores de crack, que não pára de crescer.



A minha perplexidade tem relação direta com as leis que até bem pouco tempo não poupava nem os consumidores de maconha. Os cuidados do estado para que a droga não virasse uma epidemia era tamanha que até as festas que duram dias eram vigiadas para evitar que a juventude da burguesia sucumbisse em êxtase pelos comprimidos que chegavam aos quilos por via marítima ou aérea. De repente, tudo ficou menos nocivo numa comparação direta com o crack, de tal forma que as ações sobre os consumidores da terrível droga de condado também deixaram de existir. 



Primeiro, quando o grupo resumia-se aos viciados da Maré, era uma correria protagonizada pela polícia para que todos saíssem debaixo do viaduto que dá acesso à Ilha do Governador, um dos caminhos de acesso ao Aeroporto Tom Jobim e à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Agora parece que houve uma negociação para que os sem-terra e com crack ocupassem o terreno pontiagudo que fica bem em frente ao Parque União. Mas foi só.



No momento, a impressão que dá, é que estão todos acomodados: governos, cracudos e sociedade que não se mobilizam mais para nada, que não se revoltam mais com nada, que não querem mais saber de nada. Como os meninos e as meninas do crack, todos parecem viver apenas o momento do incêndio que volta e meia acontece devorando os plásticos que cobrem suas cabeças em dias de chuva e douram seus corpos negros e eretos em dias de sol tórrido e calor de 50 graus à sombra de nada.



A impressão dos que passam, é que todos que ali estão, estão desgarrados de tudo: da família, dos amigos que um dia tiveram em um círculo social menos violento, da escola que saíram para o acampamento do crack e da esperança que um dia pensaram existir. São Paulo, com todas as críticas, está fazendo a sua parte e o Rio não pode mais se eximir da responsabilidade de cuidar, enquanto há tempo, de seu acampamento de vitimados pela falta de perspectivas, pela falta de uma verdadeira política para a infância e a juventude que claramente está dizendo que toda política assistencialista promovida pelos governos que vão se perpetuando no poder, não deu em nada!


Antonio Eugênio é Educador, Mestre em Educação pela UFF, Doutorando Na UERJ.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Escolas Empobrecidas: Sem História nem Geografia


A escola vive uma profunda crise de legitimidade. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas.

Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.?

A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação?

Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes.

Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola.

À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português.

Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática!

As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas?

Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê?

A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática.

A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos.

Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português?

Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico?

De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas.

As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial.

Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento?


As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) são doutoras em Educação e Ligia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa) é doutoranda em Educação. Todas são pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) – FEUSP.

Retirado de:

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Respeite a Si Mesmo e Ganhe Auto-Estima


Por Flávio Gikovate
Só existe auto-estima quando uma pessoa vive de acordo com suas idéias, sem ofender o código de valores que ela construiu ao longo da vida. Uma pessoa para quem a honestidade é fundamental poderá ficar rica se aceitar suborno, mas sua auto-estima cairá, inevitavelmente. Não é possível alguém gostar de si mesmo, ter um bom juízo de si, se estiver agindo em desacordo com seus princípios.

Os valores de cada pessoa, assim como os de cada sociedade, variam muito e dependem fundamentalmente do ambiente em que ela cresceu. Nos primeiros anos de vida, incorporamos essas normas com o objetivo de agradar aos adultos que nos são importantes. Aprendemos seus valores e os adotamos porque este é o caminho para sermos amados por eles. Os adultos usam essa necessidade das crianças de serem protegidas e acariciadas como instrumento para educá-las, ou seja, transmitir à nova geração as normas daquela comunidade.

Mas isso é apenas o princípio do processo. A partir de um certo ponto do nosso desenvolvimento, passamos a contestar os valores que nos foram impostos pela educação. Isto pode ser feito de um modo bastante estabanado e grosseiro, negando, apenas por negar, tudo o que nos ensinaram (e são muitos os adolescentes que agem assim).

Entretanto, também podemos reavaliar nossos princípios de um modo mais sofisticado, comparando-os com outros pontos de vista ou submetendo-os a uma experimentação na vida prática. Se fomos educados, por exemplo, a não transigir, tornando-nos pessoas rígidas e prepotentes, isso pode nos trazer muitos inimigos e afastar as pessoas de quem gostamos. A prática da vida nesse caso poderá nos ensinar a ter mais "jogo de cintura", ou seja, a afrouxar um pouco mais os nossos critérios quanto à liberdade e aos direitos de cada pessoa.

Sempre que mudarmos nossos valores devemos conseguir mudar também nossa conduta. O objetivo disso é fazer com que possamos viver de acordo com nossas idéias, condição indispensável para uma auto-estima positiva. Mas outra condição se impõe para uma boa auto-estima: levar uma vida produtiva, em constante evolução.

Se uma pessoa gosta de cozinhar, ela tenderá a se dedicar a essa atividade. Será capaz de avaliar seus avanços por meio da reação das pessoas que provam sua comida e não adianta negarmos: somos dependentes das reações dos que nos cercam e nos são queridos. Os elogios reforçarão suas convicções de que está indo pelo caminho certo, enquanto as críticas indicarão a necessidade de correção de rota.

Com o passar do tempo e o crescer da experiência, ela saberá avaliar a qualidade de sua comida por si mesma, tornando-se menos dependente do julgamento dos outros. Sua auto-avaliação vai se tornando mais importante que a dos outros. Sua auto-estima vai se cristalizando em um patamar alto, sólido e independente do ambiente.

Mas é importante ressaltar que esta imagem positiva de si mesmo não pode ser construída do nada. Não adianta a pessoa se olhar todos os dias no espelho e dizer: "Eu sou uma pessoa legal, mereço as coisas boas da vida, eu me amo". Agir assim é acreditar que se pode enganar a si mesmo com discursos bonitos e falsos. Precisamos agir sempre de acordo com as nossas convicções, levar uma vida produtiva e nos aprimorar naquilo que fazemos.

Não importa qual seja a atividade, precisamos nos relacionar com o nosso meio e receber dele sinais positivos de que nossa ação é boa e que está em permanente evolução. Se uma pessoa não faz nada, não se dedica a nenhum tipo de atividade, não terá a menor chance de ter uma boa auto-estima. Ela não se testa para saber qual é o seu valor, e a dúvida puxa para baixo a auto-avaliação. E de nada adianta colocar uma máscara e sair por aí com ares de quem "se ama e muito". Isso não engana ninguém!

Retirado de:

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Religião, Barbárie, Civilização e Autoritarismo

Por Francisco Bosco
É preciso reconhecer que a religião, sobretudo em contextos de barbárie, tem um importante papel civilizador. 

A religião retira do desespero os órfãos ontológicos (que somos todos, independentemente de classe social) e também os órfãos do Estado, da lei, e do vazio de outras instituições culturais que poderiam oferecer um sentimento de pertencimento e coesão. 

Aos desesperados de toda a sorte, ela traz paz e sentido. 

Não estou dizendo que só desesperados são religiosos, mas sim que o desespero, o sentimento geral de abandono tende a produzir violência, que entretanto a presença da religião impede. 

É uma dimensão civilizatória (“alienante” e “contrarrevolucionária”, outros diriam).

Mas esse feito civilizador é alcançado à custa de uma coesão comunitária excludente, que parece necessitar do princípio da exclusão para forjar sua própria comunidade.

Nisso, os monoteísmos em nada diferem das ideologias totalitárias, como o nazismo. 

E, assim, a mesma coesão comunitária que alivia o niilismo e seus efeitos sociais deletérios, numa volta dialética do parafuso exclui todos os sujeitos que não se enquadram nos seus princípios morais (de origem dogmática), voltando contra eles a violência abolida na origem. 

E então a civilização retorna à barbárie.

O imaginário do sujeito monoteísta tende a rejeitar, como ameaça, qualquer outro que não corresponda ao conjunto de normas que perfazem o seu composto de identificação."


Retirado de: http://oglobo.globo.com/cultura/o-monossexualismo-7561931#ixzz2KnK4xA8o

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Teoria das Janelas Partidas


Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia.
Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.

Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito.
Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre.
Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?
Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como o "vale tudo". Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor a criminalidade) , estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujeira das estacões, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'.
A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.

Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na vila ou condomínio onde vivemos, não só em cidades grandes. A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.

Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.
Pense nisso!

(Via Edith Agnes Schultz)

Retirado de:

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sobre as mazelas das Universidades Federais Brasileiras


"Titulação não garante mérito. Mérito se avalia por produção. Há muito professor universitário neste país que julga que seus títulos têm algum valor que os coloca acima do resto da sociedade. Fortemente recomendo que abandonem essa lamentável ideia. Soa como um palhaço que insiste em ser chamado de Doutor Palhaço. " (Adonai Sant'Anna)

Por Adonai Sant’Anna
Anos atrás fiz várias contribuições para a Scientific American Brasil, com dois artigos, diversas notas de divulgação e jornalismo científico, revisões técnicas para a Série Gênios da Ciência e uma resenha de um livro de Richard Dawkins, entre outras. No final do ano passado, porém, apresentei uma proposta ao editor Ulisses Capozzoli: publicar um artigo sobre as mazelas das universidades federais brasileiras. Pedi a ele que visitasse este blog, para ter uma ideia melhor sobre o que eu tinha em mente. Capozzoli imediatamente concordou, percebendo que certas questões sobre as universidades públicas precisam ser urgentemente discutidas.

A edição de fevereiro de Scientific American Brasil com o artigo em questão já está nas bancas brasileiras e portuguesas. No editorial, Capozzoli dá especial atenção ao artigo, afirmando que "o que ocorre nessas instituições [universidades públicas] é a ação nefasta de grupos/pessoas interessadas na fermentação interna da mediocridade intelectual como estratégia de sobrevivência parasitária".

Com permissão do editor, reproduzo aqui uma versão do artigo original, adaptada ao perfil deste blog.

Agradeço ao editor Ulisses Capozzoli não apenas pela importante iniciativa, mas principalmente pela cuidadosa revisão que ele fez na primeira versão do texto.

Parte significativa do artigo contém informações e discussões já veiculadas aqui, principalmente sobre o problema da estabilidade de emprego entre professores de instituições federais de ensino superior. Mas há também tópicos que ainda não exploramos neste blog.

Veremos, agora, as reações dos diferentes segmentos sociais deste país. As primeiras mensagens de reação já começaram a chegar, principalmente de jovens estudantes.

Desejo a todos uma leitura crítica.

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Ciência e Educação (de qualidade) são a Base da Esperança
Em 1998 o Governo Federal criou por decreto a Gratificação de Estímulo à Docência no Magistério Superior. Tratava-se de um adicional ao salário dos docentes de instituições federais de ensino superior (ifes), cujo valor dependia da produtividade em ensino, pesquisa, extensão e administração de cada professor. Pouco tempo depois o valor máximo desta gratificação foi incorporado aos salários de todos os docentes concursados das ifes. Os professores que sistematicamente tinham produtividade máxima (de acordo com critérios governamentais) continuaram a receber em seus contra-cheques o mesmo valor de meses anteriores. Os demais, com produtividade inferior, conquistaram significativo aumento em seus vencimentos.

Este é um exemplo que retrata com fidelidade o quadro típico da universidade pública brasileira: a falta de meritocracia. E, sem reconhecimento efetivo de mérito, como promover progresso científico e tecnológico relevante? Esta falta de políticas meritocráticas na academia brasileira atinge não apenas professores e pesquisadores, mas também alunos e funcionários do quadro técnico-administrativo.

Neste artigo esboço de forma muito breve alguns dos mais graves problemas crônicos do ensino superior público - com ênfase nas universidades federais - e algumas consequências de tais problemas, geralmente gravitando ao redor da confortável garantia de emprego para todos os professores concursados. O foco deste texto se justifica de forma simples. As universidades federais de nosso país têm um papel estratégico fundamental em toda a rede educacional brasileira. Ações e políticas de instituições privadas e estaduais de ensino superior ou médio são muitas vezes dependentes de práticas comuns às universidades federais espalhadas pelo território nacional, as quais são fortemente controladas pelo Governo.

Instituições federais de ensino superior não têm autonomia para contratação, demissão ou negociação salarial de professores. Concursos públicos, para fins de contratação de novos docentes, somente podem ser realizados através de editais nacionais do Governo Federal. Localmente, não há como negociar a contratação de professores, não importando a competência dos mesmos, fatores emergenciais ou as necessidades da instituição. Sempre devem ser aguardados os editais governamentais. Demissões somente podem ocorrer em casos extremamente graves, como abandono do cargo. Participei, anos atrás, de uma comissão interna da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que deveria avaliar a situação de um docente que não aparecia no trabalho há pelo menos seis meses. Esta foi uma demonstração muito clara da lentidão administrativa de uma universidade federal. Se um docente lecionar de forma incompetente ou se não realizar atividades de pesquisa, extensão ou administração, isso não caracteriza motivo suficiente para demissão ou perda de privilégios básicos do cargo. Vale observar que estou falando da prática e não daquilo que consta em documentos oficiais. Também não estou discutindo sobre professores substitutos, os quais são contratados por tempo determinado, ganhando salários muito inferiores aos de concursados.

Se um professor é contratado após realização de concurso público, ele deve cumprir um estágio probatório de três anos. Após este período, seu cargo está praticamente garantido, independentemente de sua produção posterior ao longo de toda a vida acadêmica restante. Além disso, docentes podem eventualmente progredir em planos de carreira, mas jamais regridem. Uma vez que um docente se torna Associado III, por exemplo, jamais pode regredir para Associado II ou I, mesmo que nada mais produza após sua última progressão funcional.

É claro que há professores de ifes que mantém excelente produção acadêmica. Mas existem também aqueles que faltam às aulas (sem registro oficial de tais faltas), não cumprem ementas de disciplinas ou horários de aulas, não realizam pesquisa alguma ou qualquer atividade de extensão e nem orientam alunos de graduação ou de pós-graduação. Tais professores podem contar com os mesmos benefícios da estabilidade dada aos mais produtivos.

São várias as consequências do conforto conquistado através da estabilidade irrestrita. Uma delas é o fato de que comumente professores mais antigos se sentem intimidados por jovens que demonstram talento evidentemente superior à média, e muitas vezes usam mecanismos burocráticos absurdos como tentativa desesperada para nivelar todos a um mesmo patamar de desempenho mediano. Cito um caso que eu mesmo testemunhei. Durante minha chefia do Departamento de Matemática da UFPR, de 2005 a 2007, fui relator de um processo de pedido de afastamento de um casal de jovens professores recentemente contratados pelo Departamento de Estatística daquela instituição: Leonardo Soares Bastos e Thaís Cristina de Oliveira Fonseca. Ambos foram convidados para realizar doutoramento em ótimas universidades britânicas, sob a orientação de dois pesquisadores de excelente reputação internacional e com bolsas de estudos pagas pelas respectivas instituições estrangeiras. Apesar do Departamento de Estatística ter aprovado as duas solicitações e de meu parecer ter sido justificadamente favorável, o Setor de Ciências Exatas (instância superior) indeferiu os pedidos. A alegação foi o estágio probatório, o qual deveria ser cumprido por ambos. Legalmente, o estágio probatório poderia ser cumprido no exterior, uma vez que o vínculo empregatício com a UFPR seria mantido. E os membros do Conselho do Setor de Ciências Exatas sabiam disso. Mas o fato é que vi de perto os verdadeiros motivos para negar os pedidos de afastamento temporário: o medo provocado por jovens que crescem rapidamente em suas carreiras. O resultado não poderia ser outro. O ambicioso casal pediu demissão e seguiu rumo para a Inglaterra. Hoje são professores doutores das Universidades Federal Fluminense e Federal do Rio de Janeiro. Ou seja, apesar das políticas das ifes serem praticamente as mesmas em todo o país, este casal ainda insiste em apostar no futuro de nossa nação. Afinal, o Brasil precisa de estatísticos de alto nível.

A consequência mais óbvia da estabilidade irrestrita para docentes das ifes é a falta de um ambiente competitivo na vida acadêmica pública. É claro que muitos professores com produção científica (nem todos) têm acesso a bolsas de estudo e/ou pesquisa, o que caracteriza um certo reconhecimento de mérito por parte de órgãos de apoio que são geralmente externos às ifes. E a manutenção dessas bolsas depende da contínua produção científica dos beneficiados, de acordo com critérios muitas vezes exigentes. No entanto, seus cargos em suas instituições de origem jamais estão ameaçados, ainda que não produzam conhecimento algum. E mesmo em casos de faltas graves, como a prática comum de lecionar conteúdos de forma superficial e até errada, o cargo continua garantido. As ifes ainda contam com o trabalho competente de diversos pesquisadores e cientistas brasileiros, algo que dificilmente pode ser encontrado em universidades privadas deste país. Mas, em geral, as condições de trabalho deles em pouco difere daquelas ofertadas a todos os demais. Temos, assim, um ambiente de pouco estímulo à produção intelectual relevante do ponto de vista do exigente cenário internacional.

O Brasil não é internacionalmente reconhecido como uma nação que produz ideias. Os Estados Unidos são um país tão novo quanto o nosso. Mas as melhores universidades do planeta estão na América do Norte, de acordo com diversas pesquisas internacionais realizadas de forma independente. Por que o Brasil não consegue se destacar em produção científica? Não estaria na hora de percebermos que estamos fazendo alguma coisa errada? Mentes brilhantes nosso país tem desde muito tempo atrás.

Carlos Chagas foi oficialmente indicado ao Nobel de Medicina em duas ocasiões. Perdeu porque Afrânio Peixoto era contrário à política meritocrática adotada por Chagas durante sua gestão no antigo Departamento de Saúde Pública do Governo Federal. Deste modo, Peixoto e colegas fizeram campanha perante a Comissão Nobel, no Instituto Karolinska (Suécia), afirmando, resumidamente, que o trabalho de Chagas não merecia atenção alguma.

Natural de Petrópolis, RJ, Peter Medawar ganhou o Nobel de Medicina, mas durante a juventude teve a cidadania cassada pelo Governo Federal, simplesmente porque não se apresentou ao serviço militar obrigatório. Os resultados de suas pesquisas sobre transplantes de tecidos vivos estão acessíveis a qualquer brasileiro, incluindo militares. Mas a cidadania de Medawar somente foi restaurada muito tempo depois e de forma absolutamente discreta. Por sorte Medawar tinha cidadania britânica também. Assim, Inglaterra ganhou um Prêmio Nobel a mais e o Brasil até hoje ignora a fundamental importância da ciência feita em ambientes competitivos.

Universidades estadunidenses também conferem estabilidade para professores. Mas são poucos os que recebem este benefício, conhecido como tenure. O critério é simplesmente meritocrático. E tal mérito não se avalia através de concurso público realizado em dois ou três dias, mas ao longo de uma extensa carreira marcada por contribuições de elevada relevância acadêmica e negociações. A concessão de estabilidade irrestrita a qualquer professor universitário ou pesquisador é uma forma extremamente eficaz para cultivar um ambiente sem desafios significativos. E ciência, como qualquer outra atividade profissional de alto nível, se fundamenta na constante luta para vencer desafios.

Um docente de instituição federal de ensino superior pode ter acesso a bolsas governamentais de pesquisa e orientar alunos de pós-graduação, se demonstrar produção científica principalmente na forma de artigos publicados em certos veículos especializados de circulação internacional. No entanto, em áreas como matemática, física, química e biologia, esta produção é especialmente avaliada a partir de números que nem sempre têm a ver com qualidade. Avalia-se a quantidade de artigos publicados em periódicos reconhecidos pelos órgãos de apoio à pesquisa, mas raramente se avaliam fatores extremamente importantes, como impacto social de pesquisas e a efetiva participação dos envolvidos.

A revista britânica Nature, por exemplo, adota a seguinte política editorial: ao final do artigo publicado deve ser especificada a real contribuição de cada um dos autores. No entanto, a maioria dos periódicos especializados não adota esta postura. A inclusão de nomes de colegas em artigos científicos tem sido cada vez mais frequente, mesmo quando estes colegas não participam de forma alguma no projeto em questão. E apenas uma minoria dos professores pesquisadores das ifes consegue publicar contribuições que demonstram algum impacto significativo à ciência. O mecanismo mais imediato para avaliar impacto é citação. Em geral, quanto mais citações um artigo recebe na literatura especializada internacional, mais relevante é o impacto do trabalho citado. Porém, mesmo esta visão quantitativa tem limitações.

Por conta de um único artigo publicado na revista Nature, o curitibano Cesar Lattes revolucionou a física de partículas elementares. E, por conta deste trabalho, ele também foi indicado ao Nobel. Quantos outros pesquisadores deste país podem dizer que passaram por experiência parecida? Em avaliações de produtividade, para fins de progressão funcional nas ifes, este artigo de Cesar Lattes valeria tanto quanto um trabalho obscuro publicado em Physics Essays, um dos piores periódicos de física em circulação. E valeria a metade de um livro didático publicado, independentemente de sua qualidade.

A verdade é que vivemos em uma nação na qual há um número crescente de doutores que sequer sabem ler inglês, situação essa simplesmente inadmissível nos países desenvolvidos, principalmente nas áreas científicas. E sem conhecimentos básicos de inglês, como produzir ciência?

De forma alguma recomendo que deveríamos copiar o modelo acadêmico norte-americano. Mas certamente poderíamos aprender muito com modelos que demonstram claramente funcionar melhor do que o nosso. Afinal, as universidades estadunidenses, apesar de inúmeros problemas graves, produzem a maioria das mais impactantes contribuições científicas e tecnológicas do mundo. O Brasil simplesmente não compete.

Nos Estados Unidos jovens ingressam em universidades. No Brasil, jovens ingressam em cursos universitários. Esta é uma diferença profunda entre os dois sistemas. Se um aluno de uma instituição federal de ensino superior consegue vencer as absurdas barreiras do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do vestibular, ele está praticamente preso a um curso escolhido enquanto cursava o ensino médio e, portanto, enquanto estava longe de qualquer ambiente universitário. Se este aluno percebe que o curso escolhido não está de acordo com seu perfil pessoal, ele dificilmente terá chances de conseguir uma transferência. A burocracia é muito complicada e prática para poucos. Provavelmente terá que se submeter ao ENEM e ao vestibular de novo ou simplesmente desistir, como muitos o fazem. Já em uma universidade norte-americana, seja privada ou estadual, o recém ingresso encontra a oportunidade de conhecer todas as diferentes realidades das opções disponíveis para graduação. Ele tem a chance de escolher seu futuro profissional a partir de um ambiente genuinamente universitário. No Brasil, as ifes operam como instituições poliversitárias. E este modelo é copiado por instituições estaduais e privadas do ensino superior brasileiro. Logo, o Brasil não tem ideia do que é uma universidade.

Um sistema de ensino superior que exige de um adolescente a escolha de seu curso superior antes de ingressar em qualquer universidade é um sistema que negligencia sua juventude.

Nas ifes também não existe, de forma séria, a tradição das associações de ex-alunos. Isso significa que as ifes, em geral, não avaliam as carreiras de seus egressos. Uma universidade que não está interessada em saber sobre o destino profissional de seus ex-alunos é uma instituição que não está interessada em conhecer seu papel real perante a sociedade. Novamente temos negligência.

Em 2007 todas universidades federais assinaram o polêmico contrato REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) com o Governo. A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) foi a última a assinar este pacto. Em troca de dinheiro, essas ifes assumiram o compromisso de aumentar gradualmente suas taxas de conclusão de curso para noventa por cento. Do ponto de vista educacional, essa exigência é simplesmente irresponsável. Cursos nas áreas científicas, por exemplo, comumente apresentam índices de reprovação muito superiores a dez por cento, mesmo nas melhores universidades do mundo. Isso significa que tanto o Governo Federal quanto os professores que alegam lutar pelo ensino superior público de qualidade em seus emocionais movimentos de greve, estão negligenciando o futuro da nação de forma realmente perigosa. A preocupação evidente é com quantidade de jovens que se formam em graduações e não com qualidade de ensino.

Em 2012 a consultoria britânica Economist Intelligence Unit publicou um levantamento global de educação que comparou quarenta países, levando em conta notas de testes realizados por alunos e qualidade de professores avaliados entre 2006 e 2010. O Brasil ficou em penúltimo lugar, denunciando um sistema educacional básico que supera apenas o da Indonésia. Este resultado desastroso é uma das múltiplas evidências de que professores formados pelo ensino superior brasileiro não estão demonstrando competência profissional. Diante da promessa do Governo e das universidades federais de que as taxas de conclusão de curso deverão subir indiscriminadamente para noventa por cento, percebe-se que o futuro reserva um desempenho educacional ainda pior para o Brasil, a longo prazo.

Usualmente também não existem programas de honors (ou equivalentes) nas ifes. Esses programas constituem em uma série de procedimentos de avaliação que reconhecem os alunos que se destacam como os melhores em suas respectivas turmas de formatura. Na prática, os programas de honors operam como cartas institucionais de recomendação que simplesmente afirmam: "Este indivíduo realizou seu curso com distinção e louvor." É uma forma de ajudar a alavancar as carreiras dos mais brilhantes. Nas ifes, no entanto, novamente faz-se questão de tratar todos de forma igualitária. Temos assim outro exemplo de negligência em um país cujas universidades públicas geralmente consideram elitismo como algo socialmente reprovável.

Não existem mais cátedras nas ifes. Se um professor de universidade federal falece, pede exoneração do cargo ou se aposenta, ele libera uma vaga. Não importa se este docente orientou dezenas de doutores, publicou centenas de artigos de elevado impacto, exerceu relevantes atividades administrativas ou influenciou de forma construtiva milhares de pessoas ao longo de sua carreira. Simplesmente não existe continuidade de sua obra. Este senso de continuidade deveria ser estabelecido institucionalmente através da cátedra. O célebre astrofísico Stephen Hawking, da Cambridge University, ocupou a mesma cátedra de Sir Isaac Newton, um dos pais da ciência moderna. Trata-se de um compromisso que deve transcender a mortalidade física dos grandes nomes da ciência mundial. Nas ifes, porém, qualquer obra, por mais relevante que seja, deve morrer junto com o seu autor. O grande lógico brasileiro Newton da Costa é professor catedrático da UFPR. Sua cátedra é um cargo vitalício, conquistado décadas atrás. No entanto, apesar deste grande cientista ser responsável pela formação de uma importante escola de lógicos brasileiros reconhecidos internacionalmente, a UFPR não se preocupa em ocupar esta cátedra com algum profissional que continue tal tradição. Isso porque todas as cátedras foram extintas, não apenas na UFPR, mas em todas as ifes. Temos aqui um exemplo de negligência com obras relevantes. Falta a percepção de que memória não se promove apenas com museus ou nomes dados a salas de aula e bibliotecas.

Mantenho um blog no qual promovo discussões e articulo ações sobre educação, com especial ênfase à matemática. Neste sítio convoquei alunos de ifes a espalharem cartazes em suas instituições de ensino com a frase "Professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas." É uma frase simples, excessivamente resumida, mas que retrata um fato importante. Os jovens que atenderam ao pedido foram surpreendidos com manifestações imediatas de extrema intolerância, vindas justamente de professores. Docentes concursados, que viram esses cartazes, simplesmente os arrancaram. Cartazes colados em paredes foram dilacerados. Há pouco espaço para autocrítica nas ifes.

Recentemente recebi convite da revista Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do estado do Paraná, para escrever um artigo. Imediatamente escrevi um texto crítico sobre a educação brasileira. Recebi a resposta de que aquele texto não poderia ser publicado, pois não interessava à SETI criar atritos políticos com demais setores do governo paranaense. Em função desta resposta, escrevi outro artigo, no qual eu criticava o papel do filósofo da ciência nos dias de hoje. O artigo foi publicado na íntegra. Ou seja, criticar filósofos não tem problema. Mas criticar o sistema público de ensino é desaconselhável. E isso ocorreu em uma revista chamada Sem Fronteiras.

Quando propus o presente artigo ao editor Ulisses Capozzoli, a resposta foi imediata: se a Scientific American Brasil publica artigos contendo críticas a universidades dos Estados Unidos e de outros países, por que não criticar universidades brasileiras? Esta é uma postura genuinamente científica. Sem crítica, não se faz ciência e nem educação. Sem crítica, não se sustenta uma instituição de ensino séria e competitiva e, em particular, uma universidade. E os exemplos de negligência dados são igualmente exemplos de falta de crítica.

Professores de física falam de infinitésimos em suas aulas de graduação e pós-graduação, quando modelam fenômenos físicos através de ferramentas do cálculo diferencial e integral. No entanto, o cálculo ensinado nas mesmas instituições não emprega infinitésimos, conceito este fundamental em um estudo avançado conhecido como análise não standard. Professores de cursos de letras, quando lecionam linguística, discutem sobre gramáticas gerativas de Chomsky, sem de fato conhecer teorias de conjuntos, o que torna o estudo sério a respeito do tema simplesmente impossível. E docentes de cursos de filosofia abordam filosofia da ciência sem jamais terem tido qualquer contato com atividades científicas, no sentido estrito do termo. Apesar destes problemas não serem exclusivos das universidades federais, certamente a perpetuação de tamanha ignorância em tais instituições constitui um péssimo exemplo que se propaga em praticamente todas as universidades do país. O próprio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) considera lógica matemática como especialidade da álgebra, em sua classificação de áreas do conhecimento, demonstrando desconhecer o que é lógica matemática.

O conceito de universidade deve apelar fundamentalmente para uma visão de universalidade, como o próprio nome sugere de forma trivial. Muitas das mais importantes contribuições científicas da história exigiram pesquisas interdisciplinares. A descoberta da estrutura molecular do DNA, por exemplo, somente foi possível graças a aplicações de métodos de ciências físicas em biologia. A própria filosofia da ciência, nos dias de hoje, avançou para muito além das ideias de Karl Popper, autor ainda venerado em graduações brasileiras como uma espécie de líder atual que conduz aos temas mais avançados da metodologia e da epistemologia. O casamento entre filosofia da ciência e métodos avançados de lógica matemática praticamente não é discutido nas salas de aulas de nossas universidades. Enquanto nossos professores universitários em geral ignoram as profundas riquezas da psicologia matemática e das aplicações da teoria matemática das decisões em ciências humanas, entre outros exemplos de interdisciplinaridade, o Brasil continua estagnado perante as nações que tradicionalmente produzem conhecimento científico de alto nível e que, por conta disso, crescem dos pontos de vista social e econômico. Não é por acaso que nossas graduações em engenharias são reconhecidas apenas como cursos técnicos em países europeus.

Fala-se muito da necessidade de valorizar o professor no Brasil. No entanto, os professores do ensino público frequentemente querem impor essa valorização através de greves que reivindicam melhores salários para todos, sem qualquer discriminação. Se docentes desejam honestamente ser valorizados, poderiam examinar certos exemplos que ocorrem em outras categorias profissionais. Médicos, psicólogos, engenheiros, arquitetos e até mesmo corretores de imóveis contam com o apoio de códigos de ética. Professores, porém, não têm qualquer código de ética para estabelecer padrões de qualidade de suas profissões e mecanismos de proteção e punição. Códigos de ética certamente não resolvem de maneira definitiva o problema da valorização profissional. Mas constituem um importante passo, de caráter muito mais meritocrático do que greves. Mas, para isso, seria necessário que os docentes dialogassem com especialistas em ética, cujas competências sejam internacionalmente reconhecidas. Sem diálogo entre diferentes áreas do saber, não há universidade e nem educação.

Para o leitor perceber melhor as origens da incompetência dos professores brasileiros, recomendo a leitura deste artigo de Paula Louzano e colaboradores.

Nos Estados Unidos todas as instituições de ensino superior são pagas, incluindo estaduais e municipais. No Brasil as universidades públicas são gratuitas. Este é um exemplo brasileiro de profunda responsabilidade social. Mas qualquer que seja a realidade educacional e científica de uma nação, sempre haverá problemas graves a serem resolvidos. Portanto, a visão crítica jamais deve deixar de existir. Porém, levando em conta nossa realidade de hoje, fica evidente que ainda não encaramos de frente os problemas mais crônicos e graves.

Há muito tempo o Governo Federal tem investido consideráveis verbas para apoiar pesquisas e expandir vagas em universidades. E graças a iniciativas como a criação de institutos de pesquisa, projetos de convênios internacionais e órgãos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, o Brasil conseguiu conquistar um certo reconhecimento internacional em algumas áreas da medicina, matemática e física, para citar umas poucas.

Mas a preocupação principal que deve ser colocada, atualmente, é sobre a estrutura fundamental do ensino superior brasileiro. E o primeiro foco de atenção deve ser voltado às instituições federais de ensino superior, as quais respondem por grande parte da produção científica da nação e estão ao alcance de ações imediatas do Governo Federal. Em alguns rankings internacionais, as primeiras universidades brasileiras citadas são duas estaduais de São Paulo. Eventualmente aparecem também nestas listas a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas suas colocações são sempre modestas. E na rigorosa classificação Shangai, nenhuma instituição brasileira é citada.

A situação econômica do Brasil, bem como seus reflexos sobre a qualidade de vida de cada um de nós, não serão sustentados a longo prazo sem uma revisão drástica sobre os fundamentos de nossa educação e produção científica e tecnológica. Sem ciência e educação, simplesmente não há esperança.